Li esta semana num desses “sites” que infestam a internet como pragas de gafanhotos, que o Ibuprofeno e o Diclofenac, substâncias usadas em medicamentos de utilização comum em casos de inflamações, provocam um aumento no risco de paragem cardíaca…
Ora, esta notícia foi baseada em informações retiradas de estudos médicos, publicados em revistas especializadas, lidas frequentemente por médicos. Por esse motivo, o teor da notícia não constitui propriamente uma novidade assinalável. Para mim, o surpreendente foi encontrar o seguinte título para a notícia: “Ibuprofeno e Diclofenac aumentam risco de paragem cardíaca. Cientistas pedem para suspender toma”…
No título da referida notícia aparece um apelo, supostamente elaborado por cientistas (quais?) para que os doentes parem de tomar os medicamentos… Sensacionalismo barato, irresponsável e sugestionador, que pode induzir aos pacientes menos avisados a paragem na toma de medicamentos dos quais necessitam…
Se um paciente toma um medicamento, à partida, toma por sua própria conta e risco (sem receita médica), ou toma porque houve um médico que receitou o medicamento… Caso esteja a tomar por sua conta e risco, sem receita, está a arriscar-se desnecessariamente, pelo que deveria parar de o tomar imediatamente, tenham os medicamentos na sua composição estas substâncias (Ibuprofeno / Diclofenac), quer não tenham.
No entanto, se o medicamento foi receitado por um médico, não percebo qual o motivo que uma pessoa poderia ter para suspender a medicação… Qual cientista consegue pesar melhor os prós e os contras da utilização de uma substância num doente do que o médico que lhe assiste?
Claro que existem sempre aqueles pacientes que acham que são mais espertos do que todos os outros e dizem que não querem ingerir “químicos” e preferem ingerir chás e passar unguentos… Fazer o quê? …
Alguns esquecem que um médico estuda durante sete anos, realiza um internato e só depois vai trabalhar. Mesmo depois de muita experiência na sua carreira, a maioria dos médicos continua a receitar medicamentos, tais como o Ibuprofeno ou o Diclofenac (conforme os pacientes e após determinar a necessidade de o fazer).
Parece óbvio que não é a utilização das substâncias químicas que faz mal! A água também é uma substância química e nós necessitamos dela como tudo! O que faz mal não é o uso, mas o abuso das substâncias! O que faz mal não é o uso do Ibuprofeno ou do Diclofenac. O que faz mal é o abuso dessas substâncias!
Já Hipócrates, no século IV a.C., usava formulações farmacêuticas com a utilização de plantas. Nos anos que se seguiram, a farmácia e a medicina aproveitaram os conhecimentos de botânica, química e física para a utilização de novas substâncias e de novos métodos de utilização de substâncias já conhecidas. A evolução, não raro, promoveu o uso de novos métodos de extração e de concentração de substâncias conhecidas obtidas de plantas e possibilitou ainda o surgimento de substâncias sintéticas. Toda esta mudança permitiu uma revolução positiva no tratamento das doenças.
Todo este “aprendizado”, assimilado pelos médicos, está agora a ser colocado em causa. Os médicos e a medicina em geral não podem ser postos em causa por manchetes de notícias pouco éticas e sensacionalistas de “sites”, que mais que informar, querem apenas provocar polémicas!