Não! Não quero falar do aproveitamento mediático que foi feito a propósito desta tragédia…
Também não vou falar de fogo posto, nem de nada do género…
De igual modo, não vou discutir a limpeza das matas ou a colonização visível destas por espécimes (eucaliptos, pinheiros bravos), que, por suas características, aumentam o perigo de incêndios…
Quero é referir que no referido incêndio, algumas questões foram levantadas: O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) emitiu um aviso meteorológico sobre o risco muito elevado de incêndio florestal para a zona de Pedrógão Grande (e para outras regiões do país) quatro dias antes do incêndio e, ainda assim, mesmo passadas horas depois do início das chamas, os operacionais no terreno continuaram a ser em número reduzido. Porquê? Os meios aéreos não poderiam estar prevenidos e ter sido chamados mais cedo?
Além disso, qual foi o motivo para não terem fechado a EN 236-1, antes dos condutores terem lá ficado aprisionados num inferno de chamas? Houve, de facto, falhas na comunicação de emergência, acrescidas do facto dos bombeiros terem ficado “sem qualquer rede móvel”?
Não estou a querer culpar ninguém! Não sei sequer se os factos que referi acima e foram publicados pelo Público estão realmente confirmados! As minhas perguntas surgem de uma curiosidade sincera, resultante de uma tragédia… Reparem que, se os bombeiros ficaram sem comunicação de emergência e sem “rede”, como seria possível para um cidadão comum, numa situação de emergência, pedir ajuda? Mesmo que pedisse, como iriam os bombeiros saber? Adivinhavam? Sem comunicações, talvez essa fosse a única hipótese!
Todos os anos, os incêndios provocam dramas. Este ano, já demonstrou que não será exceção. Espero que, pelo menos desta vez, sejam tiradas consequências do que aconteceu.
Por fim, gostaria de referir que não é só o fogo que provoca emergências! Terramotos, tsunamis e outras situações podem ocorrer…
Todos sabemos, por exemplo, que, em 1755, Lisboa foi destruída por um terramoto e que o norte do país sofreu um sismo de magnitude de 3,5 na escala de Richter com epicentro em Amarante, ainda no início de junho…
Por esse motivo, não devemos estar atentos apenas aos problemas dos incêndios… A defesa civil portuguesa necessita estar preparada para os incêndios florestais e também para outras situações de emergência, que podem ocorrer no interior do país ou nas grandes cidades e que devem ser encaradas de frente, na perspetiva de quem quer prevenir problemas e não apenas remediar…
As falhas aconteceram, acontecem e vão continuar a acontecer… além disso, as falhas são mais visíveis justamente nas pessoas que mais trabalham, como por exemplo, os bombeiros. Assim, a única forma de evitar as falhas, é saber onde estão antes… Mas, como isso pode ser possível?
A única resposta possível é “com muito trabalho”!
Trabalho de treino e de simulação de situações de emergência! Trabalho que, frequentemente, dá origem a planos de emergência e de contingência e que já é realizado de forma sistemática por parte de várias instituições.
Refira-se que os resultados desse trabalho, desde que tivessem sido corretamente avaliados, poderiam talvez ter minimizado algumas das situações vividas pelos bombeiros no caso de Pedrógão.
Assim, deve ser realizado com frequência e bom senso por todas instituições e nunca apenas por obrigação para evitar problemas com fiscais ou inspetores… Os simulacros realizados por este tipo de trabalho são obrigatórios no caso de muitas instituições, mas mais importante que isso, salvam vidas!
E o leitor? O que pensa sobre o assunto? Quantas vezes participou no último ano de um simulacro?