Pois é! Estamos em guerra e eu não sabia!
O leitor deve saber que o terrorismo é uma das maiores chagas no mundo atual!
No ano passado, aproximadamente 34.623 pessoas foram vítimas de ataques com motivações políticas, sociais ou religiosas que resultaram de ações extremistas. Desses, apenas 2,5% ocorreram no ocidente, sendo que este número tem aumentado proporcionalmente nos últimos anos…
Ora, o terrorismo funciona através do medo e do pânico induzido nas pessoas pelos atentados… O seu principal objetivo, longe de ser alcançado pelos atentados em si, é alcançado pelo terror provocado na população visada que, sem meios para se defender, desespera perante um agressor invisível…
Em Portugal, felizmente, não temos tido este tipo de problemas… As ações extremistas, por razões políticas, sociais ou religiosas, não têm tido expressão na história dos últimos 20 anos de Portugal.
Infelizmente, isto não significa que o terror não esteja presente por estes lados… Não é, à partida, provocado pelas razões habituais, mas sim, pela incúria, pela negligência, pela falta de profissionalismo, pela incompetência e, por vezes, pela ganância de alguns…
Caso ainda não tenha chegado lá, peço que o leitor acompanhe o meu raciocínio…
Ainda estávamos no primeiro dia de setembro e a TSF publicava que Portugal tinha metade da área ardida da Europa… Em meados de agosto, o site da Rádio Renascença referia que, em 2017, Portugal apresentava mais 485% de área ardida do que a média dos últimos 10 anos…
Por outro lado, no último sábado, foram registados 268 fogos que, se fossem dispersados ao longo do dia, permitiriam obter a bonita média de um fogo a cada 5,4 min.…
Esta segunda-feira, dia 16 de outubro, pelas 22h, haviam 47 incêndios em curso, cada um deles a ocupar uma média de 77 meios humanos e de 23 meios terrestres…
Portugal, por causa dos incêndios, teve pelo menos 60 mortos em Pedrógão e, neste momento, o número de mortos resultantes dos incêndios de domingo já vai em mais de 30…
As pessoas não sentem que estão seguras em casa… têm medo do fogo!
Fogo que sempre foi um perigo, mas que, aparentemente, sempre esteve controlado, o que não acontece agora…
Também, pudera! Não há bombeiro que aguente um fogo novo a cada 5,4 min.!
Acredito que a falta de chuva e as temperaturas elevadas que temos vivido favorecem os fogos florestais e acredito também que as matas podem não estar limpas, o que dificulta o combate aos incêndios, mas, será que o ambiente mudou tanto assim, a ponto de o aparecimento de um fogo novo a cada 5,4 min. ser uma coisa normal?
Estão em causa as pessoas!…
Estão em causa as pessoas que necessitam ter a certeza de que a sua casa, os seus bens e, mais importante do que tudo o resto, a sua vida (e a dos seus familiares) está em segurança!…
Estão em causa as pessoas que necessitam ter a certeza de poder ir para casa ou para o seu trabalho e de poder transitar pelas diversas estradas e autoestradas nacionais sem correrem o risco de morrer só por estarem no local errado, na hora errada (lembrem o que aconteceu em Pedrógão)…
Estão em causa as pessoas que vivem neste país e têm direito a um ar puro e a um ambiente mais limpo, sem fumo e restos de madeira queimada…
Mas o que poderá estar a pôr em causa tanta gente? O que será que obriga milhares de bombeiros a tanto trabalho, por vezes, inútil, mas sempre perigoso? O que será que, tal como um terrorista, anda por aí a ceifar vidas e sonhos ao transformar em cinzas anos de existência?
Não será o fogo (e cada um dos incêndios, portanto) uma “força da natureza”, que, favorecido pela incúria do ser humano (que não limpa as matas), acontece de forma imprevisível, motivada por razões originadas nessa mesma natureza (como por exemplo, a falta de chuva ou as elevadas temperaturas)?
Ou… será o fogo um mero instrumento a serviço de alguns que, a troco de alguns tostões, jogam com a vida humana?
Não é esse vilão, o fogo, o protagonista para vários negócios? Ele é fiel companheiro não apenas dos fabricantes de vestuário para bombeiros e dos proprietários de aviões e helicópteros de combate a incêndios, mas também dos pirómanos, dos donos de madeireiras (que, após o fogo, possuem madeira barata para comprar) e, por vezes, dos próprios donos de terrenos inescrupulosos, que aproveitam estes incêndios para mudar o tipo de registo dos seus terrenos, de forma a tentar ganhar algum dinheiro com isso.
Ora, seja qual for a resposta, o certo é que, tal como o terrorismo condiciona a nossa forma de viver e de ver o mundo, povoando o nosso imaginário com temores indescritíveis, também os incêndios em Portugal nos aterrorizam, enquanto nos questionam onde vivemos, o que fazemos, quem visitamos e por onde passamos, numa lógica brutal, nunca antes vivenciada por qualquer um de nós…