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Um blogue do professor Manuel Ramos

Jornal Referência Saúde

As vacinas vão chegar!

Volto mais uma vez ao tema do Covid-19

Em janeiro de 2021 irá iniciar em Portugal a campanha de vacinação portuguesa contra o Covid-19.

Neste momento, é difícil ajuizar sobre quais serão os efeitos dessa campanha, mas ela está a ser encarada com muita esperança por todos em Portugal, uma vez que é, com certeza, uma luz para nos guiar até ao final desse túnel escuro, onde estamos agora…

No entanto, apesar de toda a esperança na vacina revelada por diversos governos no mundo e por toda a população mundial, permitam que diga que as (tão esperadas) vacinas são necessárias, mas não representam ainda o fim do pesadelo…

Para início de conversa, existe muito pouca informação fidedigna sobre o Covid-19 (e sobre as vacinas) a ser divulgada…

Além disso, é possível detetar algumas contradições que, como é evidente, deixa muitas dúvidas no ar.

Por exemplo, no sítio da SNS24, na sua secção de vacinas, existe a afirmação de que para uma vacina ser utilizada, é necessário um processo extenso, que demora vários anos, que evolui desde uma investigação inicial em laboratório e com animais, até à liberação da vacina para aplicação na população, passando pelo meio por diversas fases que envolvem a aplicação em grupos de pessoas, cada vez mais numerosos, que permitem identificar todo o tipo de detalhes associados, tais como as contraindicações, os efeitos colaterais, as dosagens mais adequadas e a sua eficácia.

Apesar disso, pouco tempo depois do surgimento do Covid-19, já em janeiro, teremos diversas vacinas a serem aplicadas na população, com uma eficácia assumida pelos seus fabricantes superior a 90%… E eu agora pergunto: afinal, são necessários anos para desenvolver as vacinas ou não?

Dá para desconfiar, pois, mesmo com toda a evolução tecnológica e científica atual, dificilmente um trabalho que normalmente leva anos, pode ser realizado numa fração do tempo (meses), com a mesma qualidade…

Não quero dizer que desconfio das vacinas que aí vem… As organizações que atestam a eficácia e a segurança das vacinas são credíveis e merecem todo o meu respeito. Além disso, dado que as vacinas salvam vidas e são muito importantes para a manutenção de um bom estado de saúde das populações, os olhos de todo o mundo estarão vigilantes face aos problemas eventualmente encontrados.

Mas, isso não significa que a situação seja normal, pelo que, pelo menos na minha opinião, uma de duas considerações deve ser verdadeira: Ou o ciclo de produção de vacinas não é tão longo quanto é referido no sítio da SNS e, a nível mundial, tem sido artificialmente mantido longo pelas diversas farmacêuticas, ou o ciclo de produção de vacinas é realmente longo e, neste ano, foi encurtado para atender a demanda do Covid-19… Neste caso, caso a dúvida é de que forma este prazo foi encurtado… O que ficou por fazer?

Claro que eu posso estar errado! Os processos de certificação de vacinas podem ser normalmente longos, mas, neste caso, foram encurtados (tendo em conta o panorama mundial provocado pelo Covid-19), sem que com isso se tenha deixado de fazer tudo o que é necessário para a certificação. Neste caso, as vacinas apresentarão, de facto, a qualidade que tem sido divulgada em termos de eficácia e nenhum risco para a segurança terá havido. Ainda assim, a inoculação das vacinas não será, a curto prazo, solução para nada.

Em primeiro lugar, nenhuma das vacinas possui uma eficácia de 100%! A eficácia apregoada por elas é igual ou um pouco maior do que 90%, o que nos leva à conclusão de que, no limite, poderemos ter uma pessoa em cada 10 a apanhar Covid-19, mesmo depois de ter tomado a vacina.

Outro fator que deve ser considerado é que as vacinas não serão aplicadas em todas as pessoas simultaneamente. Na realidade, o tempo que separará a primeira inoculação da vacina numa pessoa e a inoculação na última pessoa será bastante longo. Como em algumas vacinas a eficácia apregoada só é atingida após a segunda inoculação, os contatos entre as pessoas que ainda não tomaram as duas doses com outras pessoas que estejam contaminadas poderão proporcionar situações de contágio na mesma.

Claro que, nos casos em que sejam necessárias duas tomas da vacina para a imunização, a toma da primeira, apesar de ainda não proteger totalmente, faz com que os riscos de contaminação sejam menores e que a gravidade da doença, caso contraída, seja de alguma forma mais reduzida.

Também não é conhecida a duração da proteção de cada vacina. Será que as vacinas que só necessitam de uma dose deverão ser tomadas uma única vez ou será que devem ser tomadas anualmente, ou, quem sabe, uma vez em cada cinco anos, ou ainda, uma vez em cada cinco meses? E as vacinas que necessitam de duas doses?

Como sabemos, o vírus que causa a Covid-19 sofre muitas mutações, como aliás também sofre o vírus que provoca a gripe. Neste caso, provavelmente, teremos uma situação parecida com a da gripe (com vacinação anual) ou será que o panorama será diferente?

Caso tenha de haver revacinação periódica, será que as pessoas que venham a tomar uma das vacinas em 2021 poderão mudar o tipo de vacina na outra toma que fizerem?

E as pessoas que adoeceram com o Covid-19 e sobreviveram? Será que elas terão de tomar agora alguma das vacinas ou será que elas já possuem imunidade suficiente? Caso elas ainda não tenham imunidade suficiente e tomem a vacina, será que poderão tomar qualquer um dos tipos de vacina disponíveis sem terem uma reação alérgica grave?

São muitas as perguntas e as respostas disponíveis para o povo em geral são poucas.

Apesar de não considerar que a vacinação venha, num curto intervalo de tempo, resolver qualquer coisa, penso que ela será fundamental para que, a longo prazo, os problemas dessa pandemia que nos assola sejam controlados.

As vacinas poderão vir e, oxalá venham rapidamente, em bom número e com qualidade, mas, por favor, amigo leitor, não deixe de cumprir o seu papel, diariamente, com a máscara e com o distanciamento social.

Não esqueça disso e… Feliz Natal!

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